1º Ano Ensino Médio

 

Leitura Complementar: A Revolução Científica do Séc. XVII

 

 

 

 Copérnico tira a Terra do centro do universo e, com ela, o homem. A Terra não é mais o centro do universo, mas um corpo celeste como os outros: ela, precisamente, não é mais aquele centro do universo criado por Deus em função de um homem concebido como o ponto mais alto da criação, em função do qual estaria todo o universo. E, como a Terra não é mais o lugar privilegiado da criação e se ela não é diferente dos outros corpos celestes, então não poderia haver outros homens também em outros planetas? E, ocorrendo isso, como poderia resistir a verdade da narração bíblica sobre a descendência de todos os homens de Adão e Eva? E como é que Deus, que desceu nesta Terra para redimir os homens, poderia ter redimido outros eventuais homens? Essas interrogações já se tinham proposto com a descoberta dos «selvagens» da América, descoberta que, além de levar a mudanças políticas e económicas, também proporia inevitáveis questões religiosas e antropológicas à cultura ocidental, colocando-a diante da «experiência da diversidade». E quando Bruno rompe os limites do mundo, fazendo o universo infinito, o pensamento ocidental encontrou-se na premência de buscar uma nova morada para Deus.

 
 
Juntamente com a cosmologia aristotélica, a revolução científica leva à rejeição das categorias, dos princípios e das pretensões essencialistas da filosofia aristotélica. O antigo saber pretendia ser saber de essências, ciência feita de teorias e conceitos definitivos. Mas o processo da revolução científica conflui para a idéia de Galileu, que escreve: «Considero o tentar conhecer a essência como uma empresa não menos impossível e, pelo esforço, não menos vã, nas substâncias elementares próximas do que nas remotíssimas e celestes: parece-me ser igualmente ignaro sobre a substância da Terra quanto a da Lua, das nuvens elementares quanto das manchas do Sol (...). (Mas.) embora inutilmente, se se tentasse a investigação da substância das manchas solares, só nos restariam algumas das suas impressões, como o lugar, o movimento, a figura, a grandeza, a opacidade, a mutabilidade, a produção e a dissolução que poderiam ser captadas por nós.» Ou seja: a ciência como ela se configura ao fim do longo processo da revolução científica, não está mais voltada para a essência ou substância das coisas e dos fenómenos, mas sim para a qualidade das coisas e dos acontecimentos de modo objectivo e, portanto, sendo comprováveis e quantificáveis publicamente. Não é mais o que, mas o como; não é mais a substância, mas sim a função, que a ciência galileana e pós-galileana passariam a indagar.
[Giovanni Reale e Dario Antiseri "História da Filosofia Vol II")